Carcinoma de células de Merkel

Dr. Gustavo Schvartsman • 18 de setembro de 2019

O carcinoma de células de Merkel é um tumor extremamente raro, mas de características muito agressivas. Apesar do seu nome, hoje se sabe que esse câncer não se origina das células de Merkel, mas sim com uma tumorigênese controversa, podendo vir de diferentes linhas de células progenitoras da derme e epiderme.

 

Cerca de 80% dos casos está relacionado a um vírus chamado poliomavírus. Esse vírus faz parte da microbiota nativa que coloniza nossa pele, de forma que na ampla maioria dos casos não causa nenhum tipo de problema. Em algumas situações, o vírus pode induzir mutações no DNA das células da derme, levando a uma proliferação desregulada e consequentemente ao carcinoma de células de Merkel. Em 20% dos casos, não há indícios virais no tumor. Nesse caso, ele ocorre comumente por exposição demasiada ao sol, com uma alta carga de mutações acumuladas pelo dano causado pela radiação ultravioleta (UV).

 

Assim como outros cânceres de pele, os principais fatores de risco para desenvolver esse tumor são relacionados à cor de pele clara, que queima fácil ao contato com o sol, juntamente com a exposição excessiva e desprotegida à radiação UV. A idade mais avançada, geralmente após os 70 anos de idade, também é fator de risco.

 

A apresentação desse tumor é geralmente em forma de uma lesão de pele arredondada, brilhante e de cor vermelha/violeta, mais frequentemente localizada em região de cabeça e pescoço, seguido de braços e pernas (Figura 1). A principal característica, porém, é o rápido crescimento. Algumas vezes, inclusive, o diagnóstico é feito já com disseminação para linfonodos regionais, ou mesmo com metástases à distância.



Após uma biópsia inicial, a análise patológica pode ser bastante desafiadora. Pela raridade do caso, poucos patologistas são familiares com a doença, laudando a amostra como um carcinoma indiferenciado (ou de pequenas células, ou com células trabeculadas), com marcadores de diferenciação neuroendócrina. Essa descrição em um tumor de pele deve sempre levantar a suspeita de um carcinoma de células de Merkel. O poliomavírus pode ser pesquisado por imunohistoquímica ou PCR (disponível apenas em poucos laboratórios no país), mas um resultado negativo não exclui o diagnóstico.

 

Diferentemente de outros cânceres de pele localizados e superficiais (melanoma, carcinoma espinocelular, ou basocelular), onde a ressecção cirúrgica simples oferece uma alta taxa de cura, o cuidado com o carcinoma de células de Merkel deve ser sempre multidisciplinar. A taxa de recidiva de um tumor localizado chega até 30%, aumentando conforme a agressividade da lesão inicial (Figura 2). As lesões devem ser ressecadas com margem cirúrgica ampla, de pelo menos 1 cm, mas idealmente 2 cm. Tumores com fatores de mau prognóstico, como invasão angiolinfática ou perineural e diâmetro maior que 2 cm, requerem radioterapia pós-operatória. O estadiamento deve ser sempre feito adequadamente antes de uma cirurgia, pois ela pode ser completamente fútil em casos de doença avançada, exigindo tratamento sistêmico primeiro.



Felizmente, a imunoterapia se demonstrou bastante eficaz no tratamento desse tipo de tumor. O medicamento avelumabe hoje é aprovado pela ANVISA para uso contra tumores avançados. Esse medicamento deve ser administrado com mais cautela que os outros da mesma classe, por causar reações infusionais que podem ser importantes. Seus resultados, porém, são surpreendentes, de forma que hoje consideramos utilizá-lo inclusive para facilitar uma ressecção cirúrgica que pode ser mutilante.

 

Em conclusão, o carcinoma de células de Merkel é um tumor raro, mas que exige sempre um cuidado multidisciplinar (dermatologista, cirurgião, oncologista, radioterapeuta e patologista), tanto para garantir as melhores chances de cura, quanto para evitar sequelas importantes de tratamentos cirúrgicos agressivos.


imunoterapia para câncer metastático
Por Gustavo Schvartsman 19 de fevereiro de 2025
Entenda como a imunoterapia está revolucionando o tratamento do câncer metastático, oferecendo novas esperanças para pacientes e quando ela é indicada.
estresse causa câncer?
Por Gustavo Schvartsman 17 de fevereiro de 2025
Você já ouviu falar que estresse causa câncer? Descubra se o estresse realmente pode causar a doença e como ele impacta na sua saúde.
Imunoterapia para Melanoma
Por Gustavo Schvartsman 14 de fevereiro de 2025
Descubra como a imunoterapia para melanoma funciona, seus benefícios e quando é indicada para pacientes com este tipo de câncer de pele.
rastramento genético quando é indicado e como funciona
Por Gustavo Schvartsman 13 de fevereiro de 2025
Saiba como o rastreamento genético pode identificar riscos hereditários, orientar medidas preventivas e personalizar tratamentos para sua saúde.
rastreamento câncer de pulmão
Por Gustavo Schvartsman 27 de janeiro de 2025
Saiba quem deve fazer o rastreamento para câncer de pulmão, quando ele é recomendado e os benefícios da detecção precoce para o tratamento eficaz.
cessação do tabagismo
Por Gustavo Schvartsman 1 de janeiro de 2025
Descubra como é o processo de cessação do tabagismo e os inúmeros benefícios para a saúde ao parar de fumar, com estratégias eficazes para uma vida mais saudável.
anticorpos monoclonais conjugados
Por Gustavo Schvartsman 25 de dezembro de 2024
Descubra como os anticorpos monoclonais conjugados estão revolucionando o tratamento do câncer, com alta precisão e menos efeitos colaterais.
terapia de prótons
Por Gustavo Schvartsman 19 de dezembro de 2024
Entenda o que é a terapia de prótons, como ela funciona e suas indicações. Acesso o conteúdo e leia mais sobre o tema.
teste genético câncer
Por Gustavo Schvartsman 17 de dezembro de 2024
Teste genético para câncer: saiba como ele pode ajudar na detecção precoce e prevenção, orientando decisões sobre cuidados e tratamentos personalizados.
exame de pulmão para fumantes
Por Gustavo Schvartsman 12 de dezembro de 2024
Entenda como o exame de pulmão para fumantes pode detectar precocemente o câncer de pulmão, quem deve fazer e os benefícios do rastreamento regular.
Mais Posts
Share by: